Nossa casa tem toda uma fauna própria. A começar por Gigio, o macaco, que vem nos visitar todos os dias. Ele dorme nas árvores, mas logo que o dia amanhece, vem sacudir os mosquiteiros das nossas redes. É uma peste! Já nos roubou mais de três bananas e um punhado de uvas passas, adora escalar cabeças, mas ninguém consegue zangar-se seriamente com ele.
Também tem Silvia, uma cobra verde, que mora no nosso telhado, mas, apesar do susto que levei outro dia quando ela quase caiu na minha cabeça, os índios disseram que ela não é perigosa e a chamam de "cobra enxerida". Erish até gosta de usá-la como colar!
De dia, é impossivel evitar que as galinhas visitem a nossa cozinha, de noite os ratos e, a qualquer hora, as baratas, as formigas, as aranhas, e, onde quer que vamos, os piúns (mosquitos) que, nessa época de chuvas, são de enlouquecer até os índios.
Como esquecer dos macheros, sapos gordos que povoam o terreiro e que as crianças, cruelmente, gostam de usar como bola. Nas duas últimas noites, têm nos visitado um morcego que entra e sai ao seu bel prazer já que não temos paredes, apenas telhado e, neste momento que vos escrevo (é madrugada) cruzou por aqui um quati, muito ligeiro, de olhos amarelos faiscando na escuridão.
Estranhamente, sentimos uma espécie de comunhão com todas essas criaturas que, ao invés de nos ameaçar, parecem partilhar conosco o desafio de viver. Ok, tiremos dessa conta as baratas - e os mosquitos! Mas, seguindo o conselho de Benki, devemos ser amigos dos piúns pois só assim eles serão nossos amigos. Estamos tentando...
Fotos de Amanda de Stéfani